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Lambidas de cães cicatrizam e curam feridas humanas?

15 Jun 2023 - 04:58
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Lambidas de cães cicatrizam e curam feridas humanas?

Quando um cão tem uma ferida ou algo no corpo a incomodá-lo, o primeiro instinto é lamber a região em que sente dor ou desconforto. O mesmo pode acontecer, por vezes, quando o animal percebe que o dono se magoou. E há até quem acredite que a saliva dos cães ajuda a curar e a cicatrizar feridas humanas. Mas esta crença tem fundamento ou não passa de um mito?

A saliva dos cães ajuda a cicatrizar e a curar feridas humanas?

feridas humanas cães

Em declarações ao Viral, Ana Lúcia Luís, professora do departamento de Clínicas Veterinárias do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e diretora do UPVet – Hospital Veterinário da Universidade do Porto, adianta que as lambidas dos cães não ajudam a cicatrizar e a curar as feridas humanas.

A médica veterinária assinala, contudo, que, “como em quase todas as alegações vindas de pessoas mais antigas e de determinados locais”, pode haver um motivo para esta crença errada se ter popularizado.

Mas qual? Em primeiro lugar, quando os cães lambem “uma ferida suja, com tecidos mortos, muito contaminada” fazem uma espécie de “limpeza”. Como “determinadas feridas humanas” também precisam de ser limpas (por vezes através de “limpezas cirúrgicas”), as pessoas, “antigamente, podiam achar que as feridas humanas beneficiariam com essa limpeza feita pelas lambidas dos animais”.

No entanto, essa teoria não é robusta o suficiente para sustentar a ideia de que seria bom deixar os cães lamberem feridas humanas, porque, tendo em conta a sujidade da boca destes animais, as lambidas podem prejudicar mais do que ajudar.

Além de lamberem “as mais variadíssimas coisas” que encontram, os cães “lambem-se a eles próprios”, inclusive em “zonas muito sujas e contaminadas”, como, por exemplo, “a zona anal e a do pénis”. Por  isso, alerta a especialista, ao lamberem uma ferida humana, “podem provocar uma contaminação”.

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Mesmo que se trate de “uma ferida muito contaminada, com crostas horríveis, que até tenha lixo” em que pareça haver um pequeno benefício em deixar o cão lamber a ferida por causa desta suposta capacidade de limpeza, a especialista aponta que “não é por aí o caminho” e lembra que o tratamento da ferida deve ser feito da forma correta.

Outra razão para a popularidade deste mito pode estar relacionada com o facto de a saliva dos cães ter “propriedades antibacterianas” e de existir até alguma evidência de que a saliva dos cães poderá ser “ligeiramente” antibacteriana contra a Escherichia coli (E. coli) e o Streptococcus canis.

No entanto, argumenta a veterinária, isso “não é suficiente para podermos assegurar uma limpeza antimicrobiana numa ferida no próprio, nos outros cães ou nos humanos”.

Porque é que os cães não devem lamber as suas próprias feridas?

feridas humanas cães

Noutro plano, a especialista defende que, tal como não se deve deixar os cães lamberem as feridas humanas, “também não devemos deixá-los lamberem as próprias feridas, nem as feridas dos outros animais”.

Num texto da Fundação de Saúde Canina AKC defende-se que deixar o cão lamber as próprias feridas “pode oferecer alguma proteção contra certas bactérias”, mas acarreta grandes desvantagens

“A lambida excessiva pode provocar irritação, abrindo caminho para pontos quentes, infeções e potencial automutilação”, acrescenta-se no mesmo texto.

Além disso, “a medicina moderna ultrapassou largamente a saliva em termos de eficácia na cicatrização de feridas, com os produtos antisséticos veterinários a oferecerem uma melhor alternativa”.

As consequências negativas que as lambidas nas feridas podem provocar nos animais  são o motivo para, após uma cirurgia, se colocar nos cães colares ou roupa própria que os impedem de alcançar a zona magoada com a língua.

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Ana Lúcia Luís explica que esses acessórios servem “para eles não lamberem as feridas, correndo o risco de a traumatizarem”.

“No caso de uma cirurgia, de onde resulta uma ferida muito limpa, se eles lambem o local, a ferida impecável e limpa passa para uma ferida contaminada”, potencialmente traumatizada. Por consequência, isso pode “impedir a cicatrização”, conclui.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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Animais

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Animais | Produtos naturais

15 Jun 2023 - 04:58

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